A Demonização do parto normal: quando a medicina vira porta-voz da conveniência
- Adrian Mcoy
- 19 de nov.
- 3 min de leitura

Vez ou outra nos aparece alguns textos de autores participantes da “medicina”, direta ou indiretamente. Alguns destes, vem com um objetivo indireto, mas apercebido por olhares mais atentos.
Uma das manobras destes é “desestimular o parto normal”, insinuando que se trata de um processo traumático, arcaico e até perigoso. A retórica é habilmente construída, sem ataques diretos, mas o suficiente para deixar no ar a impressão de que a via natural de nascimento é simplesmente algo horrendo.
O mais alarmante não é o conteúdo dos textos em si, mas a origem que transparece por trás: setores da medicina incentivando silenciosamente a cesariana como um padrão - apesar de ser um procedimento cirúrgico de alto impacto no corpo de uma mulher.
O que há por trás disso?
É impossível ignorar um fato básico: o parto normal é o método natural da espécie humana — fisiológico, evolutivamente adaptado e, para a imensa maioria das gestantes saudáveis, seguro e muito mais benéfico que uma cirurgia. Enquanto isso, a cesárea, embora necessária em algumas situações, é um procedimento invasivo, que exige recuperação longa e dolorosa, eleva riscos e envolve custos significativamente maiores.
E aqui está o ponto-chave: quanto mais caras são as intervenções, mais a indústria da saúde lucra. Não é coincidência que muitos especialistas defendam tão entusiasticamente a cirurgia. Em diversos casos, ela rende remuneração superior e encaixa melhor na rotina do profissional — programável, rápida, prática. O parto normal, ao contrário, “não se marca”: exige horas de acompanhamento e protocolos que não agradam ao modelo de produção em massa dos grandes hospitais.
A narrativa da conveniência travestida de preocupação
A estratégia é sutil: não se ataca o parto normal diretamente, mas pinta-se um cenário de dor, trauma, imprevisibilidade. Ao mesmo tempo, omite-se tudo o que numerosos estudos já confirmaram:
– menor risco de infecções;– recuperação muito mais rápida;– melhor adaptação do bebê;– redução de complicações futuras.
*Fontes:
· Difficulties in Adaptation of the Mother and Newborn via Vaginal Birth vs Cesarean Section (Lupu VV et al., 2023)
· Value‑based care in obstetrics: comparison between vaginal and cesarean births (Negrini R et al., 2021)
· Cesarean Delivery - StatPearls (NCBI Bookshelf, 2024)
· Health outcomes up to 5 years in children born as a result of vaginal birth after previous cesarean (Dencker A et al., 2025)
E, obviamente, não se menciona outro ponto crucial: parto normal não gera o mesmo faturamento.
Um padrão que se repete na saúde brasileira
O caso não é isolado. Basta observar:
O jejum, cujos benefícios metabólicos são robustamente documentados, ainda é tratado como tabu e constantemente ignorado.
O consumo de açúcar, especialmente entre pacientes oncológicos, continua sendo um segredo, sendo até oferecido em hospitais., por mais absurdo e hipócrita que pareça.
Exames e remédios caríssimos são prescritos em excesso, quando diagnósticos simples é óbvios são ignorados.
Trata-se de um ecossistema sustentado por interesses financeiros bilionários — um sistema que recompensa a medicalização, a dependência, os procedimentos caros. E nada disso é novo!
A recente denúncia, feita no Senado Federal, envolvendo operadoras de saúde e práticas abusivas — incluindo a já conhecida Unimed — apenas confirma o que a população sente na pele há anos: há uma engrenagem lucrativa que funciona às custas da desinformação e do medo.
Conclusão: é hora de abrir os olhos
Demonizar o parto normal é apenas mais um capítulo da velha história: um sistema que coloca o lucro acima do bem-estar. É fundamental que a população se informe, questione, suspeite e — acima de tudo — compreenda que nem toda narrativa “técnica” é, de fato, neutra. Muitas vezes, é apenas a linguagem bem articulada de quem tem muito a ganhar e pouco a perder.
Enquanto isso não mudar, seguiremos assistindo à distorção de práticas naturais, seguras e benéficas — e à transformação da medicina, que deveria cuidar, em uma indústria que insiste em vender soluções onde não existem problemas, confinando seres humanos em uma novela patológica interminável.
