Autismo – Causa e solução - uma hipótese integrada
- Adrian Mcoy

- 8 de out.
- 4 min de leitura

Suponhamos que desde o começo da vida — talvez ainda em útero — nos acometa uma semente invisível: um agente infeccioso ou parasitário, silencioso, que aos poucos conquista o nosso sistema, criando um ambiente onde o cérebro, embora se desenvolva, não encontra toda a sua nutrição e imunidade. Essa semente inicia, portanto, uma cadeia de reações — podendo resultar na tão conhecida condição identificada como autismo – cada vez mais proeminente.
Essa é a hipótese aqui proposta: os casos de autismo tem sua origem em infecções parasitárias congênitas ou logo após o nascimento, desencadeando disfunções intestinais, imunológicas e metabólicas — especialmente bloqueio do transporte de folato para o cérebro. Assim se estabelece a condição autista.
Infecção ou parasita inicial
O primeiro elo é a presença de um parasita (protozoário ou similar), possivelmente transmitido pela mãe durante a gestação, ou infectando o recém-nascido. Esse agente pode ser latente, estar escondido em tecidos ou intestino, causando danos vagarosos ao sistema imune ou provocando inflamação persistente.
Inflamação, disbiose e intestino comprometido
O parasita ou infecção intestinal causa inflamação da mucosa, prejudica a absorção de nutrientes, aumenta a permeabilidade intestinal (“leaky gut”). Com isso, toxinas, produtos do parasita ou antígenos atravessam barreiras que normalmente protegem o organismo e ativam o sistema imunológico continuamente.
Desencadeamento de autoimunidade contra o receptor de folato α (FRα)
Diante desse estado de inflamação persistente e exposição constante a antígenos, pode surgir mimetismo molecular (onde fragmentos de proteína do parasita se assemelham ao receptor FRα) ou outro tipo de disfunção imunológica, levando à produção de autoanticorpos que se ligam ao FRα, bloqueiam-no ou alteram sua estrutura.
Bloqueio do transporte de folato para o cérebro & deficiência cerebral de folato (CFD)
Com FRα comprometido pelos anticorpos, o folato não atravessa eficientemente para o líquido cefalorraquidiano ou para os tecidos cerebrais. Mesmo que haja folato suficiente na corrente sanguínea, ele fica “retido” ou não disponibilizado onde mais se precisa. Surge então a deficiência cerebral de folato (CFD).
Consequências metabólicas e neurológicas
Metilação deficiente → expressão gênica e epigenética alteradas.
Aumento de homocisteína → neurotoxicidade, estresse oxidativo.
Redução na síntese de neurotransmissores dependentes de cofatores do folato.
Ativação de microglia → neuroinflamação persistente.
Dano ao desenvolvimento de conexões sinápticas, plasticidade, maturação neuronal.
Sintomas clínicos do espectro autista
A partir dessas condições, manifestam-se os déficits comportamentais: dificuldades na comunicação, interação social reduzida, padrões repetitivos, sensibilidade sensorial, entre outros.
Intervenção com leucovorina como remediação metabólica
A leucovorina (ácido folínico) funciona como uma via alternativa. Ao oferecer uma forma de folato que contorna parcialmente o bloqueio do FRα, ela pode restaurar algum nível de folato cerebral, melhorar neurotransmissão, metilação e reduzir sintomas. Experiências clínicas mostram que crianças com autismo + autoanticorpos ao FRα respondem melhor quando tratadas com leucovorina. Há melhora de linguagem, comunicação, atenção, irritabilidade.
Tratamento ideal: atacar causa + reparar terreno
Provando-se correta a hipótese deste, o tratamento “completo” seria:
Diagnóstico de parasitas latentes ou infecções silenciosas (PCR, sorologias, exames intestinais).
Erradicação do agente infeccioso com antiparasitários apropriados, identificados.
Estratégias de reparo intestinal e redução de inflamação intestinal.
Monitorização de anticorpos ao FRα, função folato cerebral, e uso de leucovorina
Suporte nutricional (vitaminas, minerais, antioxidantes), imunomodulação.
Conhecimento atual — Evidências reais
Para defesa e crédito dos anunciados neste, seguem algumas descobertas recentes:
Estudos encontraram autoanticorpos ao receptor de folato α (FRAAs) em crianças com autismo. Esses anticorpos correlacionam com desempenho adaptativo, comunicação e outras funções. (PubMed)
A prevalência de FRAAs em ASD varia, mas meta-análises apontam para algo como 58-76% dos casos em certas coortes, quando se busca especificamente. (PubMed)
Ensaios controlados e revisões sistemáticas sugerem que a administração de leucovorina (ácido folínico) melhora sintomas centrais de autismo, inclusive comunicação, interação social, comportamento repetitivo, atenção. (PubMed)
Estudos também relacionam infecção por Toxoplasma gondii a risco elevado de ASD: uma meta-análise encontrou que infecção latente por T. gondii tinha OR (Odds Ratio) ≈ 1,93 para risco de ASD comparado a não infectados. (PubMed)
Limitações
Mesmo sendo uma hipótese promissora, existem pendências:
Ainda faltam estudos clínicos controlados que testem tratamentos antiparasitários como parte de protocolos para autismo, com diagnóstico de parasita + acompanhamento rigoroso.
A presença de FRAAs em pessoas sem autismo mostra que ter os anticorpos não é suficiente para causar ASD sozinho. Outros fatores devem estar envolvidos (genética, ambiente, nutrição, resposta imune). (PubMed)
Não há evidência robusta de que todos os casos de autismo venham de parasitas — a heterogeneidade é enorme. Muitos casos têm forte componente genético ou fatores de risco diversos.
Efeitos adversos de intervenções não testadas ou uso indiscriminado de antiparasitários são reais. Sem supervisão médica, dosagem errada ou tratamento inapropriado pode causar dano.
Por que essa hipótese faz sentido filosófica e cientificamente
Filosoficamente, propõe que a doença (autismo) não é simplesmente uma condição cerebral isolada, mas um sintoma de um sistema integrado: imunológico, metabólico, intestinal, ambiental.
Dá agência: se há causa identificável, ela pode ser tratada. Não aceitar pressupostos pode atrasar melhores soluções.
Combina dois mundos: o visível (parasitas, nutrientes) e o invisível (autoimunidade, bloqueios metabólicos), mostrando que “o que não se vê” — anticorpos, bloqueios, latência de infecção — pode ser tão real quanto células ou remédios.
Referências
Rossignol, D. A., & Frye, R. E. “Cerebral Folate Deficiency, Folate Receptor Alpha Autoantibodies and Leucovorin (Folinic Acid) Treatment in Autism Spectrum Disorders: A Systematic Review and Meta-Analysis.” Journal of Personalized Medicine, 2022. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34834493/ (PubMed)
Folate receptor alpha autoantibodies in children with autism spectrum disorder. PubMed. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36112150/ (PubMed)
Blocking and Binding Folate Receptor Alpha Autoantibodies Identify Novel Autism Spectrum Disorder Subgroups. PubMed. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27013943/ (PubMed)
High prevalence of serum folate receptor autoantibodies in children with autism spectrum disorders. PubMed. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29578363/ (PubMed)
Relationship between toxoplasmosis and autism: A systematic review and meta-analysis. PubMed. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32777351/ (PubMed)
Folinic acid improves the score of Autism in the EFFET placebo-controlled randomized trial. PubMed. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32387472/ (PubMed)
Binding Folate Receptor Alpha Autoantibody Is a Biomarker for Leucovorin Treatment Response in Autism Spectrum Disorder. PubMed. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38248763/ (PubMed)
Treatment of Folate Metabolism Abnormalities in Autism Spectrum Disorder. PubMed. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32892962/ (PubMed)




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