Reflexos do pai - Heranças psicológicas

Adrian Mcoy
23 de jul
3 min de leitura

Pesquisam apontam que, inevitavelmente, acabamos por herdar traços do psicológico paterno.

O estresse que um pai vivencia pode afetar seus futuros filhos e a ciência está mostrando que isso pode ser mesmo uma realidade. Um campo de estudo chamado “epigenética” está revelando como experiências estressantes de um pai podem deixar "memórias" moleculares em seu esperma, potencialmente influenciando a saúde e o desenvolvimento da prole.

Epigenética é um ramo da biologia que estuda como o ambiente e o estilo de vida podem alterar a forma como nossos genes funcionam, sem mudar o nosso DNA em si. Imagine que este é um livro de receitas. A epigenética seria as anotações e marcadores que você faz nesse livro, indicando quais receitas usarem mais, quais menos, ou como ajustar os ingredientes sem reescrever a receita original.

Pesquisadores descobriram que fatores como o estresse psicológico ou traumas podem induzir essas "anotações" epigenéticas no esperma. As modificações mais estudadas são a metilação do DNA e as alterações em pequenos RNAs não codificantes. Essas alterações funcionam como "memórias" moleculares do estresse vivido pelo pai.

Como Essas "Memórias" Chegam aos Filhos?

Quando o esperma fertiliza um óvulo, esses marcadores epigenéticos podem ser transmitidos ao embrião. É como se o estresse do pai enviasse uma mensagem genética que pode moldar características na prole, como a resiliência ao estresse, o comportamento ou até mesmo a suscetibilidade a distúrbios mentais.

Isso nos leva a deduzir que sinais de um avô podem ter sido transmitidos ao pai que, por sua vez, transmitiu o filho - e tais sinais podem nem ter influenciado o pai, mas talvez efetivos na prole deste. Logo, isso valida o proceder de profissionais em terapia sistêmica e constelação familiar, pois realmente – segundo essas pesquisas - os principais problemas de uma pessoa podem esta mesmo em seus antepassados.

Estudos em animais, como roedores, já mostraram que o estresse paterno pode levar a mudanças significativas no desenvolvimento e comportamento da prole, incluindo disfunções metabólicas e alterações nas suas respostas ao estresse.

O Eixo HPA: Uma Ligação Chave

O estresse afeta nosso corpo de diversas formas, e uma das mais importantes é através do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HPA), que regula a produção do hormônio cortisol. Pesquisas sugerem que o estresse crônico pode alterar a função desse eixo, deixando assinaturas moleculares que podem ser detectadas no esperma. Essas alterações podem influenciar os sistemas de resposta ao estresse da prole, possivelmente levando a comportamentos semelhantes à ansiedade ou problemas metabólicos.

Ainda Há Muito a Descobrir

É importante ressaltar que, embora as evidências sejam promissoras, especialmente em estudos com animais, os mecanismos exatos de transmissão e os impactos a longo prazo em humanos ainda estão sendo intensamente investigados. A complexidade da interação entre genética, epigenética e o ambiente em seres humanos é enorme, e entender tudo isso exige mais pesquisa.

A Importância da Saúde Paternal

Mesmo com as pesquisas em andamento, essa área de estudo já destaca um ponto crucial: a importância da saúde do pai antes da concepção. Reconhecer que o estilo de vida e o ambiente de um homem podem ter implicações na saúde de seus futuros filhos abre novas perspectivas para o aconselhamento pré-concepcional e para o desenvolvimento de intervenções que possam mitigar esses efeitos.

Em resumo, a ideia de que o estresse paterno pode influenciar a prole por meio de modificações epigenéticas é verdadeira e bem fundamentada pela ciência atual. Estamos apenas começando a desvendar a profundidade dessa conexão, mas já sabemos que o bem-estar do pai importa, e muito, para as próximas gerações.