A fragmentação da fé e o mistério da Unidade
- Adrian Mcoy

- 1 de ago.
- 5 min de leitura
por Adrian McCoy
Não nos veio Cristo a fundar uma religião. Não ergueu templos, não prescreveu ritos fixos, não organizou uma instituição. Veio, pois, revelar-nos o Reino! Um Reino sem bandeiras, mas com cruz; não com dogmas, mas com amor. Veio cumprir a Lei, mas também libertar-nos da lei do pecado e da morte — oferecendo-se como Cordeiro eterno, não apenas por nossas falhas, mas para revelar o profundo amor de um Deus além de todo entendimento.
No entanto, logo após sua ascensão, seus seguidores — humanos e falhos, apesar de valorosos — iniciaram a doutrinação de seus ensinamentos. Tentaram organizar o inorganizável, explicar o Inexplicável, rotular o Eterno. O que começou como uma mensagem viva e radical foi rapidamente sendo sistematizado, resultando — com o passar dos séculos — em mais de 40.000 denominações cristãs distintas.

É isto, portanto, um fracasso? Uma tragédia? Um erro de cálculo?
De maneira alguma!
A natureza da fragmentação é a natureza humana
Por meio do princípio da lógica existencial, o Todo (Deus) sabia perfeitamente com quem estava lidando: homens frágeis, contraditórios, confusos e orgulhosos. Ele sabia que a nossa mente é limitada, e nosso coração, dividido. Desde os tempos de Babel, buscamos levantar torres, criar sistemas, padronizar o transcendente. Era, pois, inevitável que os seguidores de Cristo interpretassem seus ensinamentos de maneiras diversas, criando assim toda sorte de linhas de pensamentos divergentes. Tal como foi logo no início, dentre os próprios apóstolos originais, onde já se dividiram em três.
Paulo viu o Cristo cósmico, o redentor dos gentios, a fé como chave para a salvação;
Tiago defendeu um Messias enraizado na Lei, onde fé e obras se complementam;
Pedro, o mediador, vacilava entre os dois mundos.
A primeira igreja que se institucionalizou fora a católica por meio do imperador Constantino, baseando-se na doutrina de Paulo, porém, elegendo Pedro como seu líder, considerando-o o “primeiro papa”.
- Mas o que vemos hoje, no entanto, é um cristianismo inteiramente paulino.
Essas três visões, enfim, já apontavam para o que viria: divisão, multiplicidade, escolas de pensamento, heresias e concílios. Mas por trás disso há um mistério maior; uma profunda verdade!
A Unidade de Deus na diversidade das doutrinas
A fragmentação da fé cristã — embora lamentável aos olhos humanos — revela-nos algo profundo sobre o próprio Deus. Ele é o Único que pode se manifestar em múltiplas formas, o Todo que se deixa tocar em partes, o Absoluto que se encarna no relativo. Não há uma única tradição que O compreenda por inteiro, Pois Deus não cabe em denominações. Ele não é Aquele que foi, nem o que será; Ele É! Não insiramos, portanto, Deus em um caixa; pois nada pode contê-lo! Pois sendo Ele tudo, como poderá Tudo se limitar em si mesmo?
Expandamos nossa mente, e admitamos que não entendemos, de fato, o divino; temos apenas um mero vislumbre; contemplamos-lhe como por um espelho, em enigma. Mas sempre tomando apenas um único caminho, apoiando-se em uma única verdade, vivendo uma única vida: Jesus Cristo, o Filho. Pois Ele veio também para isso: disponibilizar a todos os povos, em Seu Nome, um caminho para a Verdade; sendo o Intermediador entre nós e o Absoluto. Um vez que ninguém, jamais, pode hoje se achegar a Deus senão por Ele.
📖 1 Coríntios 13:12 (Almeida Revista e Atualizada):
"Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; mas, então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido."
Assim como a luz se decompõe em um espectro de cores ao passar por um prisma, Deus se deixa ver por diferentes ângulos em diferentes corações. Por isso, as 40.000 denominações não são apenas sinal de confusão humana, mas também de um Deus que se move, habita o caos e o cosmos, fala na pluralidade sem perder a Unidade. Ele é:
O nada ao absoluto;
O absoluto ao nada;
Tudo em todos;
O que está no centro da chama e também no silêncio que a cerca.
📖 Colossenses 3:11
"Nessa nova condição, não há grego nem judeu, não há circuncisão nem incircuncisão, não há estrangeiro, nem bárbaro, nem escravo, nem livre; mas Cristo é tudo em todos."
Ele não perdeu o controle
O erro seria pensar que Deus perdeu o controle de sua Igreja, como se ela tivesse se desviado de um plano perfeito. Mas a história sagrada sempre caminhou através da imperfeição humana:
Moisés era gago;
Davi, adúltero;
Pedro, covarde;
Paulo, assassino.
Ainda assim, neles habitava um poder maior! Porque Deus não busca perfeição doutrinária, mas corações contritos. Ele não procura a religião certa, mas o amor verdadeiro.
O Invisível que se oculta em todas as formas
Deus permitiu que fosse assim, porque assim é o homem. E porque só assim podemos ver que a Verdade não está numa estrutura, mas numa Pessoa: Cristo — o Logos, a Palavra Viva.
Por isso:
Não importa a denominação,
Não importa o título,
Não importa o rito,
Se o Cristo vivo habita ali, ali está o Reino.
“É verdade que alguns pregam a Cristo por inveja e rivalidade, mas outros o fazem de boa vontade. Estes o fazem por amor. Aqueles, no entanto, anunciam Cristo por ambição egoísta. Mas, que importa? O importante é que, de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado. E por isso me alegro.”
Filipenses 1:15–18:
Contudo... congregar é necessário
Ainda assim, lembremos: o próprio Cristo ordenou que Sua igreja fosse edificada:
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mateus 16:18)
A comunhão dos santos, o ajuntamento do Corpo, não é apenas útil — é vital! As Escrituras são claras:
“Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns...” (Hebreus 10:25)
“Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, ali estarei” (Mateus 18:20).
Deus fala mais nitidamente na comunhão, talvez devido ao agrupamento energético devidamente a Ele direcionado. E, nesta mesma comunhão, sempre acabamos aprendendo algo e nos edificando; afinal, aquele que julga saber de tudo, de nada o sabe.
Longe da fonte, todos esfriamos. Não por falta de fé, mas porque somos humanos, e humanos precisam de fricção espiritual, encorajamento mútuo e partilha de dons. O fogo do altar não se mantém com uma brasa isolada — mas com lenhas juntas, alimentando-se mutuamente. Assim, congregar não é um peso ritual, mas um ato de sobrevivência espiritual e amor fraterno. O Reino é invisível, mas se revela visivelmente quando o amor entre os irmãos floresce no ajuntamento sincero.
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"Para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, és em mim, e Eu em Ti" — orou Jesus. Logo, a unidade não virá por concílios nem por dogmas, mas quando os filhos se parecerem com o Pai, e o amor for mais forte que a razão.
Enquanto isso, as 40.000 vozes continuam a entoar, cada uma com seu tom; uma canção incompleta, mas repleta de esperança — como os instrumentos de uma orquestra esperando a batuta final do Maestro.
E quando Este vier... a Música será uma só.




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